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segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Bacia das Almas

Usando a mesma figura de linguagem da belíssima e lisérgica música do Alan Parsons Project o "Tempo" é como um rio. A passagem do tempo literalmente permite o impossível, pois proporciona à nós o espaço para mudanças. Isso aconteceu comigo também. Com o passar dos tempos tornei-me completamente descrente em relação à algumas coisas que outrora eram verdades pétreas, inexoráveis e irredutíveis. Conceitos que formavam o firme arcabouço para uma forma de pensar diluiram-se como fumaça dentro de mim, não sobrando nada. Em contra partida outras coisas, que no passado me eram periféricas e sem importância, constituem-se em verdades pelas quais eu vivo hoje. É difícil apontar os determinantes, embora eu ainda queira fazê-lo nesse espaço virtual. Por hora gostaria de falar de alguém, dentre outros, que tem me ajudado na escolha de um caminho de fé mais difícil, pois nega a teologia rasa do "Coisas boas acontecem comigo, logo... Deus é bom" ou "Coisas ruins acontecem comigo, logo... Tive brechas". Ao contrário disso tem me apontado o caminho da sincera precariedade pessoal, de uma fé mais baseada nas dúvidas do que nas certezas, negando dessa forma as concepções de Deus dentro de um sistema cartesiano e teológico definitivo. Uma dessas pessoas tem sido o Paulo Brabo.
Paulo Brabo

Conheci o Paulo lendo seus pensamentos e ideias em seu site "Bacia das Almas". Em uma época de aridez pessoal encontrar alguém como ele me tornou menos só em alguns dilemas. Estranhamente, minha infância foi parecida em muitos aspectos à dele. Moramos na mesma cidade (Londrina - PR) e praticamente na mesma época (início dos anos 80), de maneira que os lugares que ele sempre aponta em suas memórias são muito claros para mim. Suas experiências na faculdade também foram idênticas às minhas. Crescendo sob uma fé cristã rigidamente auto-imposta, ouso falar, como o Paulo, que acabei conhecendo o ideal de Jesus para amor incondicional e partilha entre meus amigos pecadores da faculdade e não no ambiente eclesiástico que tanto frequentei. Meu bom-mocismo me manteve longe das práticas desses queridos amigos, que pude, no entanto acompanhar bem de perto. Foi ali que, como na experiência do Paulo, percebi uma entrega incondicional. Tais amigos partilhavam tanto que até não se incomodavam de serem amigos de um cara como eu, certinho e carola. O Fábio, o Chóla e tantos outros me amavam tanto quanto seus amigos praticantes do velho "sexo livre, drogas e rock and rol".

Com tudo isso foi fácil gostar do Paulo Brabo, que além de muitas coisas tem me ajudado a me aproximar de Deus. Conheci o Paulo pessoalmente há mais ou menos um mês por ocasião do lançamento de um livro do qual ele é um dos autores. Pude apertar sua mão e receber uma pequena dedicatória na contra-capa. Fui ao lançamento porque queria conhecê-lo pessoalmente mas também porque queria ouvir algumas de suas ideias. Como esperava saí satisfeito. Em sua breve explanação sobre a triste institucionalização da fé entendi plenamente o que ele quiz dizer: "As instituições religiosas são, na verdade, a tentativa de se gravar em pedra as contigências". Tomamos hoje como lei e regra as decisões de pessoas que, levadas pelo "vento do espírito", comportaram-se de determinada forma no novo testamento. O engessamento das condutas tem produzido verdadeiros marionetes que continuam querendo viver na fria e dura lei do velho testamento.


O Paulo, junto com outros amigos de caminhada tem me ajudado a demolir edifcios interiores, construidos dentro de mim desde os meus 13 anos, idade com a qual eu me achei, pela primeira vez, amado por Deus. Um desses bólidos demolidores foi o livro "A Bacia das Almas" (Ed. Mundo Cristão).




Assim eu e Deus vamos convivendo:

"... Ele não cabe na caixinha que lhe prepararam os teólogos.
Nem na caixona que eu ... lhe dediquei.
Quando estou pronto para dissecá-lo, ele me escapa da mão.
E quer dançar quando quero sossego,
Quer dormir quando quero converssar,
Bate na porta quando não estou para ninguém,
E, com maior frequencia, vice-versa.
Ele não me deixa em paz
E consistentemente me ignora
E sua imprecisa lacuna me define." Paulo B.

Dessa forma não consigo abandona-Lo, pois nunca me deixou quieto, pelo contrário, com esse comportamento tem me mantido junto, me encantado e me seduzido por quase 4 décadas.
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